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Ana Jácomo

Mudanças
Ouço com frequência pessoas dizerem que fulano, sicrano, beltrano, não mudarão, ao fazer referência a dificuldades que experimentam, sejam lá em quais territórios da vida.
Pior até: não mudarão nunca, esse tempo que quer ser algoz das mais sinceras tentativas e das mais ternas esperanças.
Dizem, às vezes, com ares de profecia inequívoca.
Com o tom assertivo da sentença.
Com a perspectiva que não considera a vontade de cada um, o tempo de cada um, a história de cada um.
A força dos gestos, embora tantas vezes ainda tímidos, ainda ensaios, ainda infrutíferos.
A ação transformadora da impermanência, com os contextos que cria e os desdobramentos que produz.
Dizem, esquecidas das voltas que o mundo dá.
Dos caminhos que trilha e descobre, dia após dia, experiência a experiência, todo coração.
Dizem, esquecidas da gentileza.
Eu também já disse, num tempo em que meu julgamento era maior e a auto observação era só palavra.
Não digo mais, aprendi principalmente na convivência comigo que mudança um monte de vezes é inevitável, que em alguns contextos pode fazer muita diferença, mas que também é coisa trabalhosa e delicada.
Que, em algumas circunstâncias, não adianta querer mudar se ainda não se pode: como num jogo de pega varetas, há movimentos capazes de fazer as outras peças todas desmoronarem.
No jogo, tranquilo, apenas perdemos a rodada; na vida, a história pode complicar.
Mudança nem sempre é pra quando se quer, tem vez que é também pra quando já se consegue.
Claro que é possível conseguir quando realmente se deseja, ninguém está condenado a paralisar em lugares indesejados para não desmentir a profecia alheia, mas é preciso ter paciência, estoques dela.
Eu já mudei muito.
Eu já mudei enquanto nem mesmo percebia pela ação silenciosa de acontecimentos.
Eu já mudei coisas que eu nem acreditava ser capaz, poucas e valiosas.
Eu mudo todo dia como toda gente.
E também aquilo que, embora eu queira tanto, ainda não consigo mudar em mim me torna mais empática, mais generosa, mais confiante de que somos todos capazes das mudanças que podem nos tornar melhores, primeiro para nós mesmos, se não desistirmos de nós mesmos.
Mas, no nosso tempo.
Gentilmente.
Com gratidão àquilo que já foi conquistado.
Passo a passo daqueles que de verdade já conseguimos dar.

Não quero olhar para trás, lá na frente, e descobrir quilômetros de terreno baldio que eu não soube cultivar.
Calhamaços de páginas em branco à espera de uma história que se parecesse comigo.
Não quero perceber que, embora desejasse grande, amei pequeno.
Foto: Não quero olhar para trás, lá na frente, e descobrir quilômetros de terreno baldio que eu não soube cultivar.
Calhamaços de páginas em branco à espera de uma história que se parecesse comigo.
Não quero perceber que, embora desejasse grande, amei pequeno.
Aperta o meu coração, uma vontade de dizer sem saber se o outro quer ouvir: cuida de você, você pode, você é capaz, não fica aí nesse lugar.
Vontade de dizer, compassiva, com empatia, porque eu muitas vezes também fiquei esperando.
Até começar a entender que, depois que a gente cresce, a proteção amorosa, o suporte, a delicadeza, precisam começar na nossa relação com nós mesmos Uma benção receber amor.
Mas quando a gente dói, a gente precisa saber formas de cuidar da própria dor com o jeito carinhoso com que gostaríamos de ser cuidados pelos outros, com a delicadeza com que cuidamos de outras pessoas.
A gente precisa se ter, antes de tudo.
O beijo precisa começar em nós.
com Shirley São Paulo e Ana Cabral.
“Mas eu desejo, profundamente, que Deus também ouça as preces que lhe dirijo quando eu não consigo elaborar prece alguma.” com Shirley São Paulo e Rosana Soares.
Foto: “Mas eu desejo, profundamente, que Deus também ouça as preces que lhe dirijo quando eu não consigo elaborar prece alguma.”
“A fé é um exercício pra vida inteira.
Muitas e muitas vezes, eu me distancio incrivelmente dela, achando que posso resolver tudo sozinha.
Não é raro nessas ocasiões, na verdade é bastante comum, eu me atrapalhar toda num turbilhão de emoções que me drenam a energia e o sorriso.
Mas, toda vez que consigo acessá la, de novo, tudo se modifica e se amplia na minha paisagem interna.
( ) Então, faço o que me cabe e entrego, mesmo quando, por força do hábito, eu ainda dê uma piscadinha pra Deus e lhe diga: “Tomara que as nossas vontades coincidam”.
Faço o que me cabe e confio que aquilo que acontecer, seja lá o que for, com certeza será o melhor, mesmo que algumas vezes, de cara, eu não consiga entender.”
Tinha um jeito singular de fechar os olhos quando experimentava emoção bonita, coisa de segundos e coisa imensa.
Era como se os olhos quisessem segurar a lindeza do instante um bocadinho, o suficiente para levá lo até o lugar onde o seu sab Ver mais com Ana Cabral.
Foto: Tinha um jeito singular de fechar os olhos quando experimentava emoção bonita, coisa de segundos e coisa imensa.
Era como se os olhos quisessem segurar a lindeza do instante um bocadinho, o suficiente para levá lo até o lugar onde o seu sabor nunca mais poderia ser perdido.
Eu via, olhos do coração abertos, e nunca mais perdi de vista o sabor desse detalhe.
Porque quem ama vê miudezas com olhar suficiente pra nunca mais se perderem.
Intimidade é quando a vida da gente relaxa diante de outra vida e respira macio.
Não há porque se defender de coisa alguma nem porque se esforçar para o que quer que seja.
O coração pode espalhar os seus brinquedos.
Cantar a música que cada instante compõe.
Bordar cada encontro com as linhas do seu próprio novelo.
Contar as paisagens que vê enquanto cria o caminho.
Andar descalço, sem medo de ferir os pés.