Alguns, bem sei, já até me disseram, me acham perigosa, Mas também sou inocente.
Sei, e talvez só eu e alguns saibam, que se tenho perigo tenho também uma pureza.
E ela só é perigosa para quem tem perigo dentro de si.
Às vezes a raiz do que é ruim é uma pureza que não pôde ser.
Não gosto do que acabo de escrever mas sou obrigada a aceitar o trecho todo porque ele me aconteceu.
E respeito muito o que eu me aconteço.
Minha essência é inconsciente de si própria e é por isso que cegamente me obedeço.
Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras.
Sou irritável e firo facilmente.
Também sou muito calmo e perdôo logo.
Não esqueço nunca.
Mas há poucas coisas de que eu me lembre.
Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.
Eu não sou promíscua.
Mas sou caleidoscópica: fascinam me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro.
Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas; minhas tristezas, absolutas.
Me entupo de ausências, me esvazio de excessos.
Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos.
Mas tantos defeitos tenho.
Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa.
Embora amor dentro de mim eu tenha Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas